Moda de viola: um dos instrumentos mais antigos do Brasil ganha novas sonoridades
RIO — Durante a adolescência, Fábio Miranda, um carioca de 32 anos criado em Brasília e hoje radicado em São Paulo, gostava de botar o violão nas costas e viajar pelo país, de carona em carona. Numa dessas viagens, no interior do Paraná, um caminhoneiro que o acolhera pediu que ele tocasse o instrumento. Vendo que o menino era incapaz de produzir algum som agradável que fosse, ele se deu por vencido e pôs para tocar uma fita cassete com temas instrumentais do violeiro e mito da música caipira Tião Carreiro (1934-1993).
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— Um som incrível foi preenchendo o ambiente, e eu pensei: “Tenho que tocar isso aí!” — conta Fábio, hoje violeiro formado pela Escola de Música de Brasília, com disco solo lançado (“Caravana solidão”, de 2013) e participação em “Nonada” (2014), álbum de estreia do Judas, grupo brasiliense que explora as possibilidades do pop com o tom agreste da viola caipira.
Tião Carreiro também faz parte da vida de uma matogrossense jovem demais para tê-lo conhecido pessoalmente: Bruna Viola, cantora e violeira de 22 anos, uma espécie de nova estrela do instrumento, que, depois de despontar no YouTube, acaba de lançar pela Universal Music o álbum “Sem fronteiras”. Com um retrato de Tião tatuado no braço esquerdo, ela se imbuiu da missão de botar a viola na roda do pop sertanejo, alternando canções (como “Se você voltar”, gravada com César Menotti & Fabiano) e temas instrumentais.
‘A viola está vindo com força, hoje em dia até o pessoal do sertanejo universitário está regravando os modões antigos. E além disso, ela cabe em qualquer estilo musical’
- BRUNA VIOLA
Cantora e violeira de 22 anos
— Eu tinha gravado dois CDs independentes: um com modões de viola, resgatando as raízes, e outro mais romântico. O que mais circulou foi o primeiro — revela a moça, que entrou em contato com as dez cordas na infância, na fazenda do bisavô. — A viola está vindo com força, hoje em dia até o pessoal do sertanejo universitário está regravando os modões antigos. E além disso, ela cabe em qualquer estilo musical.
Fábio e Bruna são duas faces de um movimento de ressignificação de um dos instrumentos mais antigos da música brasileira, e que, em sua longa trajetória, foi absorvendo características dos rincões onde aportou. Músicos de Pernambuco, Hugo Linns e Rodrigo Caçapa procuraram novos caminhos, eletrificados e eletronicamente processados, para a viola dinâmica dos repentistas do Nordeste. O paulistano Ricardo Vignini e o paranaense Leandro Delmonico inserem a viola caipira no ambiente urbano do rock. E o goiano Pedro Vaz (que hoje mora em Brasília), expande as possibilidades instrumentais em projetos como o grupo Roda de Viola, o Cega Machado (que vai até para os lados do funk e do drum’n’bass) e o Encontro Violado (reunião de sete violeiros goianos).
— A viola é um instrumento que acolhe todo mundo, ao mesmo tempo rústico e sofisticado — conta Pedro, de 27 anos. — Eu pensava meio como violonista, demorou um pouco até entender as sutilezas da viola. Muita gente pensa que ela está limitada às duplas caipiras, mas há um monte de música que se pode fazer com ela.